Dirty, 2021
Sete projeções sobre papel de pergaminho | Dimensões variáveis
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Pormenor de Dirty, 2021
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Vista parcial da exposição J'avale la vague qui me noie le soleil de midi na Fundação Leal Rios, 2021
Le ciel arachnéen (esquerda); I am still not sure how long we will stay here and where will we go then (direita)
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-12_low.jpg)
Le ciel arachnéen, 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 30,4 x 31,2 x 4 cm
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Vista parcial da exposição J'avale la vague qui me noie le soleil de midi na Fundação Leal Rios, 2021
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Vista parcial da exposição J'avale la vague qui me noie le soleil de midi na Fundação Leal Rios, 2021
Daydreams (I) (esquerda); Découvre le ciel dans le bas (direita)
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Daydreams (I), 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 158,6 x 214 x 5 cm
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-22_low.jpg)
Daydreams (II), 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 96,5 x 136,6 x 4 cm
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-25_low.jpg)
Daydreams (III), 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 96,5 x 136,6 x 4 cm
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-23_low.jpg)
Daydreams (IV), 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 25,9 x 37 x4 cm
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-24_low.jpg)
Les fleurs soient toujours éphémères, 2021
Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão | 43,5 x 41,5 x 4 cm
![](/files/Javale la vague qui/AnaMary_Bilbao-28_low.jpg)
Almost blue, 2020
Vídeo HD, cor, som, 5'26'' (loop) | Dimensões variáveis
«(...) A exposição é baseada no famoso livro de Georges Bataille Le bleu du ciel (1935) e na canção Almost Blue (1987) de Elvis Costello, interpretada por Chet Baker. Em diferentes trabalhos, nos quais a artista trabalha com negativos encontrados por acaso em mercados de rua — apresentados em diferentes formatos como fotografia, projeção ou vídeo —, descobrimos uma fenomenologia das condições do aparecimento da imagem. E com ela, uma manifestação exemplar daquilo a que Heidegger chamou, no seu famoso texto A Origem da Obra de Arte, o «combate ontológico» da arte: a capacidade de vislumbrar a abertura do ser e de lidar com nossa finitude. A referência não é gratuita, já que a exposição de AnaMary Bilbao é herdeira de um pensamento que é inaugurado por Nietzsche e continuado por Walter Benjamin, Bataille, Maurice Blanchot e Georges Didi-Huberman e tem o seu foco em temas centrais como a indeterminação, o fim do absoluto ou as aporias do tempo e da representação — o que, em última análise, tem sido referenciado como a superação da metafísica. E quem melhor do que Bataille para nos servir de guia, ele cuja escrita navega nos interstícios entre o sublime e o fortuito, o espiritual e o perturbador, o eterno e o efémero — tal como as obras de Bilbao.
Uma inversão de valores, como diria o próprio Nietzsche, que encontramos, por exemplo, no céu vazio que dá título ao livro do autor francês, um céu que já não é o reflexo do transcendente, mas o abismo de uma angústia incontrolável; uma inversão que podemos reconhecer perfeitamente nas citações que se projetam na série Dirty (2021) ou no título paradoxal de outra série: Découvre le ciel dans le bas (2021). Uma inversão que encontramos também, de forma mais prosaica, na passagem do negativo ao positivo e no aparecimento daquele azul que já não é, como na tradição pictórica, o símbolo do «imenso», do «puro», o ideal, mas aparece «cinza», «enegrecido», «aracniano». Um vazio que gera «vertigem», como explica a artista, o mesmo sentimento ambíguo a que Poe chamou o «demónio da perversidade». Não é sem razão que se fala deste «duplo gesto de apagamento e criação» na obra de AnaMary Bilbao, mas a verdade é que este duplo gesto é um gesto único, exatamente um gesto duplo, um gesto fundador. Uma tentativa de superar as dicotomias redutoras da metafísica.
Da mesma forma que a luz causa ou pressupõe a obscuridade, como vemos no seu primeiro vídeo Lighted by a Searing Light (2018), o vazio é a condição de possibilidade para o surgimento do ser, para o aparecimento daquelas flores que vemos em Les fleurs soient toujours éphémères (2021). Não há absoluto, não há completude — como Kurt Gödel demonstrou tão perfeitamente —, não há interpretação única. Veja-se a multiplicidade da série Daydreams (2021), na qual a artista joga com a mesma liberdade hermenêutica da narrativa visual que é tão fecunda no melhor cinema de JL Godard, Guy Debord ou Chris Marker — não há certeza de um caminho traçado, como podemos ver na obra I am still not sure how long we will stay here and where we will go then (2021). Entre sonho e realidade, aparência e memória, ficção e testemunho, a imagem abre o possível: indeterminada como o líquido, que Bilbao imagina veneno, ingerido pelos protagonistas indefinidos da série Daydreams. É impossível não pensar na figura Derridiana do pharmakon, veneno e salvação ao mesmo tempo, exemplo perfeito dessa differance que reconhecemos no cerne estético e conceptual da obra de AnaMary Bilbao.
A ontologia estética proposta por Bilbao cristaliza perfeitamente as contradições inerentes à era pós-moderna: ressurgimento e desaparecimento, representação e sonho, narrativa e saturação visual. (...)» Por Aurélien Le Genissel (encontre o texto completo
aqui)
AGRADECIMENTOS
André Cepeda e Sara Coelho
Natxo Checa
Joana Leão
Rui Toscano
Miguel Rios
Vistas da exposição “J'avale la vague qui me noie le soleil de midi” na Fundação Leal Rios (20 de Maio a 19 de Setembro de 2021) | Fotografias das obras: Bruno Lopes | Cortesia da Fundação Leal Rios