Lighted by a Searing Light, 2018
Vídeo HD, p/b, som, 7'43'' (loop)
Dimensões variáveis


«A luz surge aqui como uma força da natureza que tanto dá vida como aniquila, mas também como metáfora de algo que destrona e submete o sujeito. Na verdade, não podemos olhar o Sol de frente, pois a sua incandescência agride a visão e desfigura o que se tenta apreender. As imagens que acusam o encandeamento e que destacam uma bolha de luz atestam esta situação, reforçando ainda a recorrência que marca o vídeo, e a sua circularidade (em loop). O som dá-nos a escutar o cântico de um pássaro Argus (Argusianus argus), que dita a duração da projecção e corresponde a um ciclo de 38 entoações seguidas. O nome deste pássaro remete-nos para o gigante de cem olhos, Argos Panoptes, proveniente da mitologia grega. Argos Panoptes, ou “aquele que tudo vê”, foi um servo a quem a deusa Hera incumbiu o controlo da ninfa Io, por quem Zeus se apaixonou. Zeus enviou Hermes para libertar Io e Argos, quando cedeu à música que este entoava, perdeu o seu domínio, adormeceu e foi morto. Em sua honra, Hera colocou cem olhos nas penas deste pássaro sagrado. (...) O vídeo de AnaMary Bilbao opera na proximidade que o som convoca e no afastamento que a visão gere. De igual modo, trata também sobre um processo de distâncias físicas e psicológicas onde a vontade e a razão se alternam. O cântico que decorre na sombra, o encantamento do sol e o deslumbre pela intensidade da sua luz ditam uma dança contínua, entre quem controla e quem é controlado. Este registo assenta na constante mudança que gere a acção e a passividade, a atracção e a ameaça. AnaMary Bilbao apresenta-nos uma leitura daquele que gravita entre um lugar de penumbra, onde ecoa o cântico de uma presença hesitante que, contudo, se quer afirmar, e um espaço de claridade, onde se é atraído, exposto e ameaçado. Esse dilema, que decorre na quase totalidade do vídeo, transforma-se no confronto do último instante, onde acabamos encandeados. O processo finaliza numa alteração de papéis, onde se muda a posição entre o dominador e o dominado. E é nesse momento, no vórtice da luta entre o que se evita e o que se deseja, que a razão se submete à vontade e que tudo volta ao início, para se repetir uma vez mais.» Por Sérgio Fazenda Rodrigues, «Lighted by a Searing Light» (2019) (encontre o texto completo aqui)




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